O que é ansiedade de separação?
Quando pensamos em ansiedade de separação, logo imaginamos crianças que sofrem ao se afastar dos pais. Mas desde o DSM-5 (2013), sabemos que esse transtorno também pode acontecer em adultos.
A ansiedade de separação em adultos se manifesta como sofrimento intenso diante da distância de figuras de apego — sejam parceiros, familiares… e até animais de estimação.
O estudo: humanos e animais
Um grupo de pesquisadores australianos investigou se a ansiedade de separação também poderia ocorrer em relação a cães e gatos.
📊 A pesquisa incluiu 313 adultos, entre 18 e 76 anos, todos com animais de companhia. Foram aplicados questionários que avaliavam:
- Ansiedade de separação em relação a pessoas e animais
- Apoio social
- Estilos de apego
- Grau de substituição de pessoas pelo animal
Principais resultados
Os achados foram bastante interessantes:
- Correlação forte: quem tinha mais ansiedade de separação em relação a humanos também apresentava mais em relação aos animais.
- Apoio social importa: pessoas com menos rede de apoio tiveram níveis mais altos de ansiedade de separação animal.
- Substituição de pessoas: quanto mais o animal era visto como substituto de relações humanas, maior a ansiedade de separação.
- Diferença entre espécies: donos de cães relataram vínculos mais fortes que donos de gatos.
- Sem filhos em casa: esse grupo mostrou, em média, mais ansiedade de separação animal. Mas atenção: isso não significa que quem tem filhos não possa ter — apenas que os níveis foram menores.
O que isso significa na prática?
Animais podem ser fontes poderosas de bem-estar emocional: oferecem companhia, reduzem solidão, dão senso de propósito. Mas, ao mesmo tempo, a ausência deles pode gerar ansiedade intensa, até mesmo compatível com critérios de transtorno.
Por isso, para algumas pessoas, o vínculo com o pet precisa ser considerado no acompanhamento psiquiátrico. Ignorar essa dimensão pode deixar de fora um aspecto central da vida emocional do paciente.
Implicações para a saúde mental
- O apego aos animais pode ser protetor, especialmente em quem tem pouco apoio social.
- Mas também pode ser fator de vulnerabilidade, quando a separação (mesmo temporária) causa sofrimento significativo.
- Psiquiatras e psicólogos devem incluir perguntas sobre animais de companhia na anamnese e considerar esse vínculo no plano terapêutico.
Conclusão
A ansiedade de separação em adultos vai além dos relacionamentos humanos.
Os animais de estimação podem se tornar figuras de apego tão importantes quanto pessoas próximas — trazendo conforto, mas também desafios emocionais.
👉 Se você sente grande sofrimento ao ficar longe do seu pet, saiba que isso não é “exagero”: é um fenômeno reconhecido pela ciência. E deve ser levado em conta no seu cuidado em saúde mental.
📚 Referência:
Dowsett, E., Delfabbro, P., & Chur-Hansen, A. (2020). Adult separation anxiety disorder: The human-animal bond. Journal of Affective Disorders, 270, 90–96. https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.03.147