Hipócrates já dizia, há 450 anos AC: “Andar é o melhor remédio do homem”. Atualmente existem inúmeras evidencias científicas dos efeitos preventivos e terapêuticos da atividade física em doenças neurológicas, metabólicas, cardiovasculares, pulmonares, distúrbios musculoesqueléticos, câncer e também na saúde mental.
Especificamente na esfera da saúde mental, a atividade física desempenha um papel crucial na promoção da saúde mental, além de preventivo e terapêutico em relação aos transtornos mentais. Como promotor do bem-estar, ela melhora o humor, a autoestima, a cognição e o sono, além de fomentar a socialização e aliviar o estresse.
A prática regular de atividade física exerce um efeito protetor, diminuindo a possibilidade de desenvolvimento de transtornos mentais, como ansiedade e depressão, inclusive em indivíduos geneticamente predispostos (SCHUCH, 2021). Além disso, desempenha um papel fundamental na abordagem dos distúrbios mentais. Múltiplas diretrizes preconizam a incorporação da atividade física como complemento à terapia psicoterapêutica e medicamentosa, uma vez que ela contribui para a diminuição dos sintomas depressivos e ansiosos, além da promoção da aprimoração dos sintomas cognitivos (SCHUCH, 2021).
Outros benefícios da atividade física para a saúde mental variam entre grupos populacionais. Em adolescentes, por exemplo, a prática esportiva está ligada a uma autoestima mais elevada (FOSSATI, 2021). Quanto ao envelhecimento, o exercício físico está associado à melhora da função cognitiva, plasticidade cerebral e à redução da incidência de demência ou deterioração cognitiva (DESLANDES, 2009).
Diversas suposições têm sido apresentadas para elucidar os efeitos positivos da atividade física na saúde mental, abarcando tanto os aspectos psicológicos quanto os fisiológicos. Possivelmente, a convergência dessas perspectivas ofereça a melhor compreensão.
No que diz respeito às mudanças psicológicas induzidas pela atividade física, ela desempenha um papel terapêutico ao promover distração, afastando pensamentos negativos tanto durante quanto após o exercício. Adicionalmente, a prática regular de atividade física está associada ao desenvolvimento da autoeficácia e da autoconfiança, uma vez que enfrentar desafios físicos fortalece essas características psicológicas. Um outro aspecto relevante é a interação social que surge naturalmente por meio da atividade física. Ela propicia um ambiente propício para o convívio social, permitindo que os praticantes se encontrem, compartilhem experiências e ofereçam apoio mútuo uns aos outros.
No campo das hipóteses fisiológicas, conjectura-se que a atividade física intensificaria a transmissão sináptica de monoaminas e desencadearia a liberação de opióides endógenos, em especial a beta-endorfina. Supõe-se que os efeitos inibitórios das endorfinas sejam os principais responsáveis pela sensação de tranquilidade e aprimoramento do humor que são frequentemente experimentados após a prática do exercício físico (PELUSO, 2005)
REFERÊNCIAS
DESLANDES, Andréa et al. Exercise and mental health: many reasons to move. Neuropsychobiology, v. 59, n. 4, p. 191-198, 2009.
FOSSATI, Chiara et al. Physical exercise and mental health: The routes of a reciprocal relation. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 18, n. 23, p. 12364, 2021.
PELUSO, Marco Aurélio Monteiro; DE ANDRADE, Laura Helena Silveira Guerra. Physical activity and mental health: the association between exercise and mood. Clinics, v. 60, n. 1, p. 61-70, 2005.
SCHUCH, Felipe Barreto; VANCAMPFORT, Davy. Physical activity, exercise, and mental disorders: it is time to move on. Trends in psychiatry and psychotherapy, v. 43, p. 177-184, 2021.