O estilo de vida adotado pelas pessoas é tanto influenciado quanto influenciador da saúde mental. Há algum tempo é consenso que um estilo de vida saudável, como a prática de atividade física, sono adequado e uma dieta de qualidade são benéficos para a saúde geral, pois previnem doenças cardiovasculares, câncer e reduzem a mortalidade prematura.
No que diz respeito aos hábitos alimentares, sua relevância para a saúde física é amplamente reconhecida, enquanto para a saúde mental ainda não está totalmente elucidada. Entretanto, numerosos estudos científicos já sugerem enfaticamente que os hábitos alimentares desempenham um papel significativo não apenas na saúde física, mas também na saúde mental e cerebral.
Sugere-se que a relação entre dieta e saúde mental é bidirecional. A dieta tem interferência na saúde mental e cerebral, assim como a saúde mental interfere nas nossas escolhas alimentares. Níveis adequados de saúde mental podem promover uma dieta mais saudável, enquanto pessoas em sofrimento mental ou altos níveis de estresse tendem a consumir alimentos hiperpalatáveis, como os ultraprocessados, através de fenômenos como a alimentação emocional e comfort food (ou ‘’comida afetiva’’).
Os mecanismos potenciais pelos quais uma dieta não-saudável impacta a saúde mental são diversos: aporte inadequado de nutrientes para o cérebro afetam os fatores neurotróficos (plasticidade e manutenção neuronal); aumento de citonas pró-inflamatórias e do estresse oxidativo; aumento da atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, resultando em um aumento de glicocorticoides séricos, que estimulam o aumento do apetite e a preferência por alimentos de alta densidade energética; além de ocorrer disbiose intestinal, que é o desequilíbrio na flora intestinal.
Amplas evidências indicam que padrões alimentares mais saudáveis, caracterizados por uma maior ingestão de frutas, vegetais, cereais integrais, peixes, azeite e lacticínios com baixo teor de gordura, bem como níveis reduzidos de alimentos ultraprocessados, estão correlacionados à diminuição do risco de transtornos mentais. Embora as dietas saudáveis tenham uma composição aparentemente simples, sua implementação pode se mostrar desafiadora sem a orientação de profissionais e sem o engajamento da comunidade à qual a pessoa pertence. Nesse contexto, é relevante considerar a dinâmica da comunidade no ambiente de trabalho, onde muitas pessoas realizam suas refeições. Se o ambiente profissional e seus membros estão comprometidos em adotar hábitos alimentares saudáveis, torna-se mais acessível incorporar um estilo de vida saudável de maneira consistente.
A adoção de uma dieta equilibrada não apenas nutre o corpo, mas também sustenta a mente. A participação da comunidade, especialmente no ambiente de trabalho, pode atuar como um elemento facilitador. Ao “descascar mais e desembrulhar menos”, abrimos caminho para uma abordagem mais consciente e sustentável em relação à alimentação e, por conseguinte, à saúde mental.
REFERÊNCIAS